Que as informações falsas seriam uma das protagonistas da atual campanha eleitoral, não havia dúvida. Não por serem algo novo, porque não são. E sim pela capacidade de propagação das redes sociais. Twitter, Instagram, Facebook e, principalmente, WhastApp deram vez e voz a militantes incautos, militantes maliciosos e, sobretudo, a um contingente gigantesco de soldados da desinformação. São muitos os interesses por trás de um viral mentiroso.
Num país cuja educação e senso crítico ainda são privilégios de poucos, o botão de compartilhamento virou uma grande arma de emburrecimento em massa.
Há fakes para tudo que é lado. Ofendem, agridem, confundem. São, conforme inúmeros estudos acadêmicos, uma grande ameaça à democracia.
Por falar em democracia, da reta final do segundo turno para cá, mentiras de esquerda e de direita escolheram um alvo comum: a Justiça Eleitoral, justamente a instituição responsável por organizar as eleições. Parecem narrativas pré-concebidas para justificar futuros resultados.
Um dos golpes propagados envolve o processo de recadastramento biométrico. Em mensagens repletas de negritos, exclamações e letras maiúsculas, afirmam que mesmo sem ter feito o recadastramento biométrico, independentemente do município, todos podem votar. É mentira.
Se o município já passou pela biometria, só vota aquele que se recadastrou. Ponto.
Ora, desde que começou a biometria há uma década, TREs de todo o Brasil, empenhados num processo eleitoral limpo e sem fraudes, chamam o eleitor, fazem campanhas, vão aos mais distantes rincões do País para convencer a todos de que o recadastramento é essencial para evitar fraudes. Eu sou testemunha do empenho de servidores, magistrados e promotores Pernambuco adentro para biometrizar a população. Em todas as oportunidades, o recado foi e será: quem for chamado (e olhe que são muitos os chamados) e não fizer o recadastramento biométrico terá o título cancelado. Ao fazer a biometria, fica-se, novamente, quite com a Justiça Eleitoral. Simples assim.
A mentira que mais agride, porém, é aquela que ataca a urna eletrônica, ferramenta que trouxe segurança, agilidade e total confiabilidade ao processo de votação e totalização. Em um movimento claramente orquestrado, surgem vídeos, áudios e textos falando em fraude na urna. A urna existe há 22 anos e nada foi provado contra ela. Nada. No site do TSE (www.tse.jus.br) é possível verificar o quão frágeis são as denúncias.
Como no caso da biometria, também presenciei o cuidado com o treinamento de pessoal, com a chamada geração de mídia (inserção de dados de eleitores e candidatos nos flashs cards), com a preparação das próprias urnas (implantação dos flash cards nas urnas), com seu transporte, com a instalação, com a segurança. Todas as etapas são públicas. Editais são lançados convidando partidos políticos e instituições. Este ano, a Organização dos Estados Americanos (OEA) acompanhou várias destas fases. E atestou a segurança do processo eleitoral.
Tem mais. Nem todo mundo sabe, mas na véspera da eleição, num processo aberto a todos, urnas são sorteadas aleatoriamente e, no dia da eleição, testadas na frente de quem quiser. Com câmeras e microfones filmando e gravando tudo, servidores digitam nas urnas eletrônicas os votos em cédula que foram previamente depositados em urnas de lona por alunos de escolas públicas e privadas. Neste processo, chamado hoje de Auditoria da Votação Eletrônica e pouco tempo atrás conhecido como "votação paralela", não se contabilizam os votos oficialmente. Trata-se de uma auditoria, como o nome já diz.
A ideia é verificar se os resultados das urnas de lona batem com os das urnas eletrônicas. Se houver qualquer tipo de fraude, naturalmente, que haverá divergência. Sabe quantas vezes os números deixaram de bater? Zero.
Além disso, é sempre bom destacar que a urna não tem ligação com a internet. Esqueça, portanto, este papo de hacker. O TSE também já chegou a desafiar especialistas em informática e sistemas eletrônicos do Brasil e do mundo. Quebraram o código da urna? Mexeram no resultado? Comprovaram a insegurança? Que nada.
O Brasil tem 147,3 milhões de eleitores. Pernambuco, 6,5 milhões. Todos votam em urnas eletrônicas. Ao longo dos últimos anos, políticos das mais variadas matizes ideológicas foram eleitos e se tornaram vereadores, prefeitos, governadores, deputados estaduais, deputados federais, senadores e presidentes. Políticos bons, maus, populistas, socialistas, comunistas, trabalhistas, conservadores, liberais, moderados. A urna não tem partido, não tem erro, não tem ideologia. Tem, sim, compromisso com a democracia, com a vontade do eleitor.
As mensagens falsas continuarão surgindo ao sabor das estratégias eleitorais. Assim, tente identificar a quem interessa disseminar a mentira de que a urna é falha. E pense sempre antes de acreditar e repassar mensagens contrárias a um instrumento que deveria ser - e é - motivo de orgulho para todo brasileiro.
Saulo Moreira é jornalista, atuou em veículos de imprensa, dentre eles o Diário de Pernambuco e o Jornal do Commercio. Atualmente é assessor de comunicação do TRE-PE.