Por Joaquim Arcoverde

Recentemente, fazendo um balanço da minha existência ao longo de 66 anos, consegui reunir alguns pontos que considero relevantes e, ao mesmo tempo, enigmáticos. Senão vejamos: 

1956, ano do meu nascimento em setembro; coincide com a mudança da Capital Federal, que deixa de ser o Rio de Janeiro, para Brasília-DF, sendo a mesma inaugurada, oficialmente, em 1960;

1966, ao completar dez anos, morando na Praça de Casa Forte, presenciei uma cena histórica e que me marcou profundamente. O "desfile", grotesco, de Gregório Bezerra, o Cavaleiro da Esperança, sendo arrastado/torturado por militares montados a cavalo, numa pretensa demonstração de poder. Profundamente lamentável, chocante e inesquecível aos olhos de uma criança;

1976, tivemos a malfadada Lei Falcão, que teve este nome por causa do seu criador Armando Falcão, ministro da Justiça, e que visava como objetivo principal evitar o fortalecimento de qualquer oposição. Com essa lei, a propaganda política foi limitada por meio de um sistema igualitário de apresentação dos candidatos políticos na televisão e no rádio. Em abril, tive meu primeiro emprego, com Carteira de Trabalho assinada, na Companhia de Transporte Urbano (CTU), escriturário nível 6. Para um jovem com 20 anos, um marco histórico e que me proporcionou experiências para o futuro profissional;

1986, concluí o curso de Biblioteconomia, na UFPE, como aluno laureado, com muita surpresa, honra e alegria. Sem dúvida, juntamente com a votação das Eleições Diretas, em 1985, uma data marcante e que me qualificou para enfrentar os desafios políticos que estavam por acontecer;

1996, depois de quase uma década dedicada à luta de organização política e sindical dos trabalhadores do Poder Judiciário Federal, que culminou com a criação de várias entidades locais: Associação dos Servidores da Justiça Eleitoral de PE (Astre); Sindicato dos Servidores da Justiça Eleitoral de PE (Sindjuse-PE) e Sindicato dos Trabalhadores do Poder Judiciário Federal em Pernambuco (Sintrajuf-PE), e nacionais: Federação Nacional das Entidades da Justiça Eleitoral (Fenaserje) e a Federação Nacional dos Trabalhadores do Poder Judiciário Federal e Ministério Público da União (Fenajufe), retornei à base no nosso órgão de origem, o Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco (TRE-PE), para participar, com muita honra e dedicação, do processo de implantação do voto eletrônico no Brasil;

2006, tive a primeira constatação da doença grave que tinha me acometido. Um Tumor Carcinoide Neuroendócrino (TNE), com o primário no intestino delgado e metástases hepáticas. Fui submetido a três grandes cirurgias, sendo a primeira em Recife, em abril. Mais duas em São Paulo, nos meses de maio e novembro. Consegui sobreviver graças aos profissionais que atuaram em todo o processo: clínicos, cirurgiões, anestesistas, oncologistas, hepatologistas, psiquiatras, psicólogos, fisioterapeutas e etc... Todos guiados pelo Pai Celeste. Impossível deixar de registrar o apoio de toda a família, amigos e colegas, que reforçaram a corrente emocional que nos sustenta até hoje. Ao final daquele ano, o presidente Lula conclui seu primeiro mandato chegando a receber a aprovação de 57% das brasileiras e dos brasileiros, numa demonstração inequívoca da boa gestão;

2016, um ano atípico. Onde tivemos o impeachment da Presidenta Dilma Roussef motivado numa alegação de “pedaladas fiscais”, mas que depois ficou constatado que a motivação principal era política, uma vez que o próprio governo que a sucedeu, de Michel Temer, executou o mesmo artifício orçamentário sem maiores consequências. Destarte, depois de uma década de luta fazendo acompanhamentos periódicos, vem o diagnóstico de recidiva dos tumores hepáticos. O que levou a iniciar outra série de procedimentos para contornar os problemas decorrentes. Mais uma vez, as anjas e os anjos terrestres entraram em ação e estão prolongando a sobrevida até os dias atuais.

Como já dizia o saudoso Dom Hélder Câmara: "Um sonho sonhado sozinho é apenas um sonho. Um sonho sonhado juntos é o princípio de uma nova realidade."

Encerro esse desabafo conclamando todas e todos que defendem o princípio cristão, de que: "Eu vim para que todos tenham vida, e vida em abundância!" que sigamos juntos na busca de uma sociedade mais justa e igualitária. A luta continua, sempre!!!”
 
Joaquim Arcoverde - Servidor aposentado do TRE-PE, um dos fundadores da Fenajufe e primeiro presidente do Sintrajuf-PE