Por Geraldo Euclides
O convite para conciliação entre as partes dos processos trabalhistas caiu em campo, quer dizer, nas mídias, jornais, rádios e campos de futebol. Este ano, a campanha vai de 23 a 27/05/2022. Entretanto, lembra o TRT/PE, a possibilidade de fazer acordo trabalhista existe no decorrer do ano - desde a reclamação inicial. Mas todo ano é escolhida uma semana para se intensificar a campanha, quando a Justiça do Trabalho, nacionalmente, procura realizar o maior número possível de conciliações, o que eleva favoravelmente os indicadores de casos solucionados, trazendo, por conseguinte, um importante aumento na arrecadação de Imposto de Renda e de valores da Previdência Social. A ideia central da campanha é a de que todos saem ganhando com a conciliação. Será?
A interrogação pode parecer incômoda e até inoportuna, ante os pontos positivos acima levantados, como a melhora dos índices estatísticos que medem a quantidade de casos julgados e a arrecadação dos impostos federais devidos. Contudo, a pergunta tem o intuito de trazer reflexões, as quais, de antemão, já caíram também em campo, lançadas por servidores e até juízes, no sentido da crítica útil e positiva para o sistema como um todo. Entendem que o Programa Nacional de Conciliação acaba por entortar um pouco o eixo da roda da justiça.
Com efeito, a questão levantada coloca em jogo, inicialmente, a compreensão usual do conceito de justiça, fundamento e razão primeira que sustenta a existência da instituição do segmento do judiciário brasileiro, bem como se, de fato, “A conciliação é uma grande jogada para você”, como diz a campanha direcionada aos usuários e usuárias da Justiça do Trabalho.
Noutras palavras: 1. O juiz ou a juíza está conseguindo cumprir o seu papel de sentenciar, fazendo valer integralmente suas conclusões, com base nos cálculos trabalhistas e de acordo com as provas dos autos? 2. As trabalhadoras e os trabalhadores estão conseguindo receber os seus direitos apontados pelo próprio órgão?
Não é desmedido concluir que o fomento à conciliação parece ser a tentativa de saída do conhecido problema da falta de servidores e juízes, o que, no fim das contas, acaba por forçar a aplicação de um direito fragmentado ao cidadão e à cidadã, já que, pelo que se sabe, acabam aceitando um valor aquém do que teriam direito. Contudo, por isso mesmo, o Programa, ainda assim, se faz exitoso e importante para a população, tendo em vista a falta das condições ideais para a celeridade processual.
Mas, de certo modo, há, pelo Programa Nacional de Conciliação - no intuito de melhorar os indicadores estatísticos de casos solucionados -, como que a esperança de que a reclamante e o reclamante sejam encontrados num grau tal de necessidade que os levem a aceitar uma cifra menor. Por esse lado, o quadro de carência material das pessoas é que poderá determinar o sucesso do programa. E não, propriamente, o fazer justiça, garantindo a integralidade do direito.
Por fim, diferentemente do que apregoa a publicidade que caiu em campo nos últimos dias, conciliar, talvez, não seja tanto assim uma grande jogada para a Justiça do Trabalho, nem para você, trabalhador e trabalhadora. O bom mesmo, para todos, seria que as pessoas recebessem, como se diz, tudo, pelo pé.
Geraldo Euclides, filósofo, escritor e servidor da Justiça do Trabalho.
Foto: Roberta Mariz / TRT6
* Este artigo é de inteira responsabilidade do(a) autor e não necessariamente expressa a opinião da direção do SINTRAJUF-PE
PARALISAÇÃO 28/5 e indicativo de greve. Assembleia no Fórum Eleitoral aprova adesão ao Calendário Nacional de Luta
Manifestação em Recife defende competência da Justiça do Trabalho diante de decisão do STF
Gilmar Mendes joga o STF contra a Justiça do Trabalho. Proteção laboral sob sério risco de degradação