“Medo nós temos, mas não usa!” A frase é de Margarida Maria Alves. Trabalhadora rural, Margarida detestava injustiças. Foi a primeira mulher a defender os direitos trabalhistas dos trabalhadores e trabalhadoras do campo. Como presidente do sindicato da cidade de Alagoa Grande, interior do estado da Paraíba, jamais teve medo de enfrentar os grandes latifundiários. Nem o regime de ditadura da época impediu aquela mulher destemida a desbravar os campos e semear justiça social por onde andava.
Durante o período em que esteve à frente do sindicato foi responsável por mais de cem ações trabalhistas na justiça do trabalho regional. Seu desejo por justiça social se deu ainda na juventude e nasceu junto com a dor de ver a família ser expulsa da terra pelo grande latifúndio, cerceando toda a cultura de uma geração de camponeses. Sabidamente a luta por direitos e justiça social incomoda. Margarida foi assassinada no dia 12 de agosto de 1983.
Antes de morrer Margarida Maria Alves já havia plantado esperança nos campos do interior da Paraíba. A mais significativa colheita veio em forma dos direitos alcançados pelos trabalhadores rurais. Sua luta fez o Ministério Público obrigar os donos de usinas e grandes proprietários a cumprirem com os direitos trabalhistas. Os camponeses e camponesas passaram a ter carteira assinada, jornada de oito horas diárias, 13ºsalário e férias. Nada do que ela e sua família haviam tido. A conquista dos direitos dos trabalhadores rurais representava para ela o resgate de tudo que o sistema tinha retirado dela e de gerações passadas.
Para relembrar seu histórico de luta, no ano 2000 mulheres do campo e mulheres indígenas realizaram a primeira marcha batizada com seu nome. A partir daí a cada quatro anos mulheres do Brasil inteiro prestam homenagens à mulher que semeou igualdade de direitos no campo. Realizada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Agricultura (Contag), federações e seus sindicatos filiados, a Marcha das Margaridas se tornou a maior ação de luta e resistência de mulheres do campo, da floresta e das águas do Brasil e da América Latina.
A cada ano a marcha arrebanha mais mulheres. Em 2019 mais de cem mil mulheres coloriram as ruas de Brasília, num ato de resistência contra todas as formas de opressão à classe trabalhadora do campo e da cidade dentro no universo feminino. Nesse ano a organização da marcha realizou uma Live, onde relembrou toda a trajetória do movimento que propõe visibilidade, reconhecimento social, político e cidadania plena para essas profissionais do cenário rural.
Seguindo as deliberações aprovadas no último Congresso Nacional da Categoria, o 10º Congrejufe realizado em abril de 2019, a Fenajufe organizou, juntamente com os sindicatos de base, o grupo “Margaridas do Judiciário” e integrou a marcha daquele ano, que também pediu o fim da violência contra a mulher, do machismo, racismo e da homofobia. Para os sindicatos que participaram da marcha, a atividade reafirmou a luta de gênero no PJU e MPU e fortaleceu as raízes do movimento com reivindicações específicas das mulheres trabalhadoras rurais.
O legado de Margarida Maria Alves, foi plantado em todas as regiões do país e comunidades ribeirinhas e quilombolas. Seu nome é lembrado também como precursor na luta pelo fim do trabalho infantil nas lavouras e canaviais. A agricultora semianalfabeta criou um programa de alfabetização para adultos e filhos de agricultores, inspirado no modelo do educador Paulo Freire.
A homenagem aos 20 anos da marcha aconteceu de forma virtual. A organização do evento lembrou que diante da pandemia de Covi-19, as trabalhadoras rurais estão em situação de risco diante da dificuldade de acesso à saúde pública. As mulheres do campo, das águas e das cidades se inspiram na história de força e luta da mulher que revolucionou o campo e plantou igualdade, direitos e cidadania para os camponeses. A live comemorativa pode ser assistida, logo abaixo.
“Da luta não fujo. É melhor morrer na luta do que morrer de fome.”
Fonte: Fenajufe