LANÇAMENTO 6 de Junho de 2018 - Por André Frej Hazineh

Resistência Palestina - um ato revolucionário de existência

Escrito por: André Frej Hazineh
Data de Publicação: 6 de Junho de 2018

No último dia 14 de maio, as forças de segurança israelenses (eufemismo para se referir ao exército judeu) promoveram um banho de sangue em Gaza, durante as manifestações pacíficas do povo palestino pelo direito ao retorno.

			A ação desproporcional do exército do estado sionista de Israel foi condenada por toda a comunidade internacional, à exceção dos Estados Unidos da América, que apoia e sustenta política e financeiramente seu fiel aliado no Oriente Médio faz sete décadas.

			As imagens do massacre promovido pelos atiradores de elite do exército de Israel correram o mundo e despertaram o interesse de milhares de pessoas ávidas por entender os motivos que levaram o estado sionista de Israel a promover a limpeza étnica na Palestina desde sua “independência” unilateral em 1948, quando proclamou seu próprio Estado dentro dos territórios palestinos.

			Primeiramente, destaque-se, o conceito de limpeza étnica, a constatação de que o estado judeu buscou desde os seus primórdios o extermínio do povo palestino se baseia em pesquisas de historiadores israelenses, entre os quais destaca-se Ilan Pappé, autor da conceituada obra “The Ethnic Cleansing of Palestine”, que descreve em detalhes o Plano Dalet, ação planejada pelo movimento sionista para expulsar sistematicamente o povo palestino de sua terra natal, através da destruição das propriedades privadas em áreas urbanas e rurais e do assassinato em massa das populações civis.

			Como descreve Ilan Pappé, as consequências imediatas da práxis sionista, implementadas pelas organizações paramilitares Irgun, Stern e Haganah (grupos terroristas) foram a expulsão de milhares de palestinos e palestinas de suas terras e o surgimento de uma nova identidade geopolítica composta por três entidades: uma na faixa de gaza, outra na Cisjordânia e a terceira decidida a judaizar toda a Palestina.

			Para o povo palestino, o 15 de maio de 1948 significou a Nakba, termo árabe para catástrofe. Catástrofe esta que permanece até os dias atuais, uma vez que há sete décadas o povo palestino é vítima da política colonialista do estado de Israel, uma política de segregação econômica, social, racial, étnica, comparada ao apartheid na África do Sul, guardadas as devidas particularidades e peculiaridades. Segundo Desmond Tutu, Arcebispo Anglicano da África do Sul e Prêmio Nobel da Paz, “os campos de concentração em Gaza se assemelham aos bantustões africanos”.

			Quem observa a situação atual em Gaza sitiada e na Cisjordânia colonizada, evidencia a história de um povo caracterizado pela capacidade de resistir, uma resistência amalgamada na própria história da Palestina, marcada pela dominação assíria, babilônica, persa, grega, romana, otomana, britânica e, finalmente, pela usurpação de suas terras e extermínio de seu povo a partir de 1948.

			A ideia de resistência, enquanto ideologia política, emerge nos anos 50 paralelamente à ideia da revolução palestina quando, no seio da universidade, estudantes planejam e fazem gestar o embrião do que viria a ser a Organização para a Libertação da Palestina – OLP, que durante décadas representou os interesses do povo palestino.

			Some-se a isso a presença - em certo sentido messiânica - de Yasser Arafat, que veio liderar o movimento de resistência e dar voz a um povo condenado ao esquecimento, pois como já escrito anteriormente, o projeto sionista previa a limpeza étnica, a eliminação da Palestina do mapa e, conseguintemente, a dizimação do seu povo.

		Com a liderança de Yasser Arafat, a OLP passou a implementar ações que deram visibilidade ao holocausto do povo palestino, denunciando os crimes de guerra cometidos pelo estado de Israel e exigindo o cumprimento das resoluções das Organizações das Nações Unidas – ONU – notadamente as Resoluções 181, 194 e 242, que determinaram a partilha da Palestina em dois estados, a retirada de Israel dos territórios ocupados na Guerra dos Seis Dias e o direito ao retorno dos refugiados às suas terras, respectivamente.

		Apesar de todo o esforço da Organização para a Libertação da Palestina para dar voz ao seu povo, o mundo permanecia indiferente ao genocídio promovido por Israel, mesmo diante das constantes violações dos direitos humanos e das ações deliberadas do exército sionista, como no massacre de Sabra e Shatila (campos de refugiados palestinos no Líbano), cujo comandante do exército judeu à época, Ariel Sharon, foi denunciado no Tribunal Penal Internacional como criminoso de guerra.

		Nesse ínterim, eclodem nos territórios ocupados insurreições que simbolizam até hoje a luta e a resistência do heroico povo palestino. Armados tão somente de paus e pedras – talvez com o estímulo do conselheiro Yasser Arafat – mártires se insurgem contra soldados armados e perdidos com armas na mão e dão início a mais uma etapa da revolução palestina, a Intifada.

		Como resultado dessas ações de resistência, o mundo reconhece a questão palestina e passa a exigir uma solução que viesse a contemplar os dois povos – judeu e palestino -, que conviveriam pacificamente em dois estados.

		Em 1988, em discurso histórico e emblemático, Yasser Arafat, em nome da Organização para a Libertação da Palestina, reconhece o direito de Israel existir e a partir daí, passos são dados para a independência e soberania da Palestina.

		Em 1993, em Oslo, sob o olhar do presidente dos Estados Unidos da América,  Bill Clinton, Arafat e o Primeiro-Ministro Ytzhak Rabin assinam um acordo de paz para estadunidense ver, prevendo a autonomia da autoridade palestina nos territórios ocupados, sem contudo garantir o direito de retorno de milhares de refugiados à Palestina, tampouco estabelecer como marco territorial às fronteiras antes da guerra de 67, quando Israel obteve o controle das colinas de Golã, do deserto do Sinai, da faixa de Gaza, Cisjordânia e Jerusalém Oriental.

		Em 1995, com o assassinato de Rabin por um radical judeu ortodoxo, ocorre o recrudescimento da situação, trazendo como consequência a assunção da extrema direita no estado sionista e o avanço do processo de colonização na Cisjordânia, com o aumento do quantitativo de assentamentos ilegais.

		Após a chegada ao poder de Ariel Sharon em 2001, sucessivas ofensivas militares em Gaza são perpetradas pelas forças israelenses, a repressão militar aumenta e se intensifica a política de assentamentos na Cisjordânia, segregando cada vez mais o povo palestino, impedido de circular dentro de seu próprio território a partir da construção do muro da vergonha de Israel, que evidencia o fascismo de um estado teocrático violador dos direitos humanos.

		Diante de tamanha tragédia humanitária o povo palestino resiste e mostra ao mundo incivilizado que a luta cotidiana pela sobrevivência é um ato revolucionário de resistência, que o combate à opressão e ao imperialismo se mostra cada vez mais urgente e que - para a construção de uma paz justa na Palestina - é necessário o protagonismo de diversos atores políticos e o envolvimento de toda a comunidade internacional para por fim, enfim, ao martírio do povo palestino.

		Nesse sentido, a causa palestina personifica a causa de todas as pessoas que lutam por justiça social, por liberdade e pelo respeito à dignidade da pessoa humana; simboliza a causa da rebeldia revolucionária e daqueles que sonham com um mundo de paz, fraternidade e solidariedade, simbolicamente expressa nas palavras do Prêmio Nobel da Paz, Yasser Arafat: “a justiça da causa representa o direito à nossa luta, somos rebeldes e a nossa causa é a liberdade”.


*André Frej Hazineh é Analista Judiciário do TRE/PE


* Este artigo é de inteira responsabilidade do(a) autor André Frej Hazineh e não necessariamente expressa a opinião da direção do SINTRAJUF / PE.